terça-feira, 20 de abril de 2010

O peso das provocações

Por Ciro Barros

Dancinhas e provocações são comuns em diversos esportes. Recentemente, por exemplo, no futebol, o time do Santos vem deitando e rolando e, a cada gol, uma nova dança que quase sempre acaba sendo encarada como um desrespeito pelos adversários. No mundo do MMA, não é diferente, isso também acontece e Anderson Silva é a bola da vez. O lutador brasileiro brincou e tripudiou de Demien Maia no UFC 112, fez caretas em cima do octógono, algo que, aliás, já é comum em suas lutas, e viu Dana White, indignado, declarar publicamente o repúdio às atitudes, sair no quarto assalto e afirmar que teve vergonha de entregar-lhe o cinturão de campeão dos médios, mesmo ao quebrar o recorde da franquia mais popular do planeta.

Essa popularização certamente se relaciona às atitudes do brasileiro. A espetacularização do mundo da luta é só um reflexo de um movimento que vem ocorrendo em quase todos os cantos do esporte e há quem veja nisso uma marca do show biz. Em alguns treinos que fiz, já vi quem aprovasse o show, quem ficasse maravilhado vendo, por exemplo, um Mike Tyson da vida soltar um direto em seu oponente em plena pesagem ou aqueles lutadores que entravam nos ringues vestidos de personagens, como o do filme Pânico. O grande público (principalmente aquele não-praticante das artes marciais) parece aprovar esse tipo de coisa que incita rivalidades, certamente.

Agora entre os lutadores, o papo é outro. Anderson Silva foi atacado de todos os lados. Belfort praticamente implorou em seu twitter uma luta com o “Aranha” e até mesmo a lenda Randy Couture reprovou a atitude do brasileiro, dizendo que aquilo não demonstrava capacidade. É verdade, porém, que Demian Maia também o provocou, mas a reação foi extremamente desproporcional. Não é digno de um campeão tripudiar sobre o derrotado: estamos falando aqui de dois superatletas profissionais que tem, se não o maior, um dos maiores regimes de treinamento do planeta, comparável a soldados. No mínimo deve-se respeito ao oponente. Desvirtuar a luta com artifícios desta natureza suscita a crítica mais comum feita ao MMA enquanto esporte: a de não se tratar de uma disputa técnica entre praticantes de artes marciais, mas antes de uma disputa passional feito como um espetáculo em cima do ringue.

A disciplina é essencial em qualquer arte marcial e ela inclui um processo de libertação do ego. No combate, vencer basta, ou pelo menos deveria bastar. E muito mais do que a vitória, busca-se consolidar o processo que conduziu à vitória. Isso de forma alguma mancha a capacidade de Silva, que quebrou recordes de lutadores como Matt Hughes e Tito Ortiz, mas ofusca a sua imagem como atleta. Quem disse que a postura não influencia no atleta? Por que Michael Jordan é o que é? O próprio Belford rodou o mundo, ficou quase dez anos invicto com o time memorável do Jiu-Jitsu do lendário Carlson Gracie e nem por isso se portava dessa maneira. Chorou quando o velcro da luva pegou no olho de Randy Couture, mesmo campeão mundial.

Está certo que luta é o contato direto com a disputa, mas vencer não pode apagar os princípios da arte marcial. Em nenhuma circunstância.

Confira abaixo trechos da luta entre Anderson Silva x Demian Maia e julgue você mesmo se o Spider Man ultrapassou os limites:



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